Dou por mim às vezes enebriado pelo lado luminoso da vida. São poucas as coisas que me fazem sentir assim e por isso até consigo enumerar algumas de cor.
Em primeiro lugar surge a paixão. Esta pode ser por alguém, mas as mais duradouras são por descobertas, experiências sensitivas, ouvidos e olhar atentos. As maravilhas que um sentido apurado de palato, mesmo que o tabaco o tenha baixado para metade, nos dá ao longo da vida. Um bom vinho, de preferência tinto, para acompanhar uma conversa a dois, com ou sem lareira. A memória de alguém que nos é, ainda depois de longos anos, importante. O prazer de entrar num carro novo e o frenesim acriançado de dar à chave pela primeira vez.
Em segundo lugar, a paixão dos outros. Por nós, claro está. Ou por coisas que lhes são importantes e para as quais somos convidados, tais príncipes encantados ou sapos bem aventurados. O prazer que os outros têm quando nos apresentam à sua nova paixão, seja uma mistura alcoólica sem par, um novo restaurante nipónico que ainda não é conhecido, aquela praia esquecida pelo inverno e pela esplanada e que só tem lugar para dois. Um cd novo de alguém de que nunca se ouviu falar e pelo qual ficamos também rendidos.
Em terceiro, o vento. Adoro vento. Adoro que me bata com força na cara, que me despenteie, que me obrigue a inclinar o corpo num ângulo pouco recto para lhe fazer frente. Não sei nunca de onde vem nem para onde irá. Por que mundos viajou, por quantas pessoas passou. Mas naquele preciso instante é só meu.
Enfim. Tenho tantas, tantas paixões. E uma delas é poder deixar de as enumerar porque assim decido.
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