terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Progenitores

A minha mãe fez ontem um porradão de anos. É, aliás, mais avó que mãe. Almoçámos sózinhos, sem grandes festas, sem grandes festejos. Para ela a minha presença bastava. Para mim faltava ali qualquer coisa. Não sei. É nas alturas mais impróprias que me lembro do meu pai. Tento não me lembrar muito, porque custa. Mas quando me lembro, porra...
Gostava muito, mas mesmo muito de voltar a almoçar com eles.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Sempre me disseram que apontar é feio

Pelo que parece apontar uma pistola de plástico é, para além de cool, uma cena que garante positiva. No meu tempo sacava-se uma positiva se se tivesse marrado a matéria dada. Agora saca-se uma pistola, diz-se uns quantos "foda-se" (que esta maltinha nem deverá saber escrever) e instala-se o pânico que faz com que directores até garantam que é caso sem importância.
O meu pai, fulano nada católico nem religioso, tentou incutir-me algum respeito pelo Senhor ao criticar-me quando eu apontava para alguma coisa. Dizia que "apontar é feio porque Deus está em todo o lado...".
Eu era bom entendedor porque estudava q.b. Será que os putos de hoje perceberiam onde o papá queria chegar?

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Porque a MF me fez voltar aqui e escrever um conto de Natal

Um conto não são favas contadas. Um conto é o sorriso de muitas crianças filhos e filhas de amigos e amigas que vêm cá a casa e gostam de estar e brincar com o meu cão. O Natal é isto: a alegria de uma gargalhada porque alguém não se contém na inocência do que está certo e do que está ainda mais certo.
O Natal é esta alegria que contagia porque quem até é obrigado a visitar as capelinhas pode ter sempre um motivo de alegria.
E essa está em todos nós. Bem cá dentro. Não tão no fundo nesta altura. E é uma pena que sejamos tão medrosos para que a escondemos todo o resto do ano.
Vamos mudar?

Como a manha dos que estão lá em cima estraga os que estão acima deles.

Dou por mim sem saber o que vou fazer na passagem deste ano para o que vem a seguir. Em conversas, dou pelos meus amigos e amigas de vários quadrantes também sem nada preparado, pensado ou combinado. Dou por mim a pensar que finalmente as pessoas perceberam que 12 badaladas não são de todo importantes. Não trazem felicidade nem são portas para cumprir promessas vãs. Dou por mim a pensar que as pessoas cresceram, que afinal o Natal é quando um sapiens-sapiens quer e que convém não beber e guiar numa noite que se prevê complicada.
Depois dou por mim a caír na realidade e a perceber que ninguém, ou quase ninguém, está com vontade de grandes manifestações de alegria.
A malta está cansada. Assustada. E tesa.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Antes caír em graça que ser um desgraçado

É-se preguiçoso quando se antevê uma possível desgraça e não se quer fazer parte dela? Mas que ao mesmo tempo a poderemos controlar até vir a sê-la? Então a preguiça é apenas uma noção do que não conseguimos negar ou apenas a certeza do que poderemos vir a viver e a gostar? E não repetir? E não será essa a verdadeira desgraça a que tentamos fugir?

sábado, 20 de dezembro de 2008

A vida que uns têm podia ser melhor empregue noutrém.

Se há coisa que me põe triste é ver gente que não percebe que ganhou a sorte grande, passar da simpatia para uma altivez ridícula e uma forma de estar na vida que é tudo menos estar nela.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Uma noção do caos da ambição

Por muito que se tenha, desejamos sempre o que não temos. Somos estúpidos? Burros? Idiotas? Nunca estamos satisfeitos? Mas porquê? O que raio fizemos para merecermos tal falta de sorte? Quem me dera ser um satisfeito com tudo o que tenho e, principalmente, o que não tenho. Mas não sou assim. Infelizmente. E o mais ridículo é que tenho muito mais coisas do que preciso. E isso é triste.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Senhoras

Porque é que um homem gosta de putas? Mesmo que não se dê ao luxo, cada vez mais oneroso e dispendioso? Mesmo que tenha um aflitivo receio da sua segurança, da sua saúde, do seu pós-sentimento? Mesmo que tenha vergonha, família, namorada? Mesmo que tenha nojo? Ou porque tem fantasias que a lá de casa também deseja secretamente? Há quem diga porque simplesmente existem. Porque estão à mão. Mas à mão de quê ou de quem? Há quem diga que fingem bem. E quanto a isto, encerro o caso.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Suor ou a transparência da falta dele

Perguntam-me porque é que tenho tanta facilidade na escrita. Porque é que as palavras jorram a 100 à hora para o teclado e daí para o monitor. Como é que é possível escrever até mais ou menos sem erros sem nunca olhar para trás. De onde surgem as ideias, os temas, os meandros e as soluções.
Respondo apenas que já vivi uns anos. Não sou puto e basta revisitar as memórias de uma vida preenchida com altos e baixos para que tudo soe fácil. Mas é só mesmo soar. Porque se suou.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Gincana

Se podemos contar uma mentira à verdade, seremos verdadeiros quando vivemos toda uma vida de mentiras e ilusões?

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Esgar

Ser-se triste é, por vezes, a maior alegria que se pode dar. Um sorriso de alguém triste é maior que todos os outros. Uns olhos que brilham quando se encontram nos nossos são um momento inspirador. Uma gargalhada sacada a ferros é a mais sonora e sentida e faz-nos sentir mesmo bem.
No fim de tudo, ficamos mais contentes por ter conseguido que alguém ficasse menos triste. Nem que tenha sido por um momento.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

roda viva

É interessante viver numa roda que se move sempre para o mesmo lado. Há a vontade de saír a qualquer instante, mas tememos pelo torcer do pé e da inevitável queda. Pior, podemos ficar com o nosso atacador enrolado na roda e o futuro é, nesse caso, muito rodopiante.
Mas, mesmo sabendo o risco, quem não se atreverá a ir com sapatos sem atacadores? E o que ficará preso nesse caso?